sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Humilhação

Este sentir que o coração sente.
Esta espera que a razão desmente.
Este olhar para o caminho eternamente,
Aguardando a vinda do ausente.

Este não querer de querendo feito.
Que em vão tento matar neste peito,
Onde tarda a verdade e o respeito
Por mim proprio imperfeito.

Na estrada o vazio do que não virá,
As palavras que o ouvido jamais escutará
Os olhos postos no presente
Que a humana realidade desmente.

Que se feche pois este sentimento
Que se abra á razão ao pressentimento
De que maior do que mim sou neste momento
Em que do chão, busco o entendimento.

Nesta hora de desejo não aceite
Desta minha vontade que o coração respeite
Junto ao abismo peço que a ponte estreite
O humano que ao divino aproveite!

Por maior sentir caí e me levanto,
Sozinho, deste mar do meu pranto,
Do gelo que me cobre com seu manto,
E me mostra o amargo sabor do desencanto.

No caminho nada surge nesta espera
Em que o sol me traga a Primavera
Com a ave que em seu voo encanta
E a sede mate numa Fonte Santa.

Esta é a humilhação que construi,
a alma que a espaços destruí.
Nesta insama paixão onde me dou
á razão que da razão ao coração roubou!

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Coragem

Coragem é decidir o que o coração
em sangue nos pede!

È abraçar a paz das entranhas parida,
Por um silencio compartida.
Num peito aberto abraçada

È aceitar o destino como sorte,
querendo a vida e a morte.
Acreditando nos olhos mareados pelo norte!

Mas se a alma, o corpo não move,
ao encontro do destino que nos coube.
Então que perdão nos seja dado
Pela coragem do amor desprezado!

Recado

Desejo amordaçado
que de querer, de presença de agita
Queria acordar desejado,
Num simples gesto procurado!

Nada tenho e nada temo
nesta verdade tenue a que me cometo,
somente a saudade e o alento,
por palavras ditas e sem gesto!!!

Sei que vivo em agonia
numa lealdade em noite e dia.
Sei que gelo se derrete
Se a alma assim se decidira.

Mas a alma, a medo construida
e de desejo amordaçada
Será jamais impulcionada
ao gesto que a natureza lhe dita.

Assim fico pois só e triste
neste recanto junto ao mar
Alento a verdade que me assiste
NO MEDO QUE TENS POR ME AMAR!

Tu (com raiva de paixão!)

Esta dor que em seus olhos se detem,
Num desejo a mim barrado,
Seja sua felicidade que se eleve,
e noutros braços procura eterno bem.

Não! Não, sou quem deseja, a razão!
nesta vida de mudança de paixão
Sou, quem sabe, pedaço de chão,
de que se alimenta, um perdido coração!

Porra! que desígnio podre a sustenta?
E prende sua alma a um ser duro
Que, cego, vê a mentira que a alimenta
E não a realidade para alem do muro?

Não!!! Recuso esta raiva incasdescente,
De um dedo acusador e inconsdescendente,
De um querer recusado e imansdescente,
de uma mente que o medo aprisionou.

Porra! sou diferente,
Do ser que sua alma ( "ontem" justificadamente) gerou!!!

Filho(a)

Dizia o Poeta maior:
"Quem faz um filho fá-lo por gosto"

Eu fiz e não senti, contudo gosto,
dessa semente de humanidade por mim gerada!
E desde a primeira hora abensonhada

Queria outro destino numa Fonte Santa embalada
E a vida em Ser brotada!

Ciume

Fogo lento que me consome
nesta pérfida fogueira de humana vaidade.
Nada sou nada tenho, tudo desejo como a verdade!

Ardo neste fogo lento feito auto de fé.
Nesta isane montra de desejo de que não sou e tudo é.
Ah mil vezes morto mil vezes desejado!
Ah mil vezes ridiculo e por amor desfeito e desprezado.
Quero me longe e morto, a cinzas reduzido e pisado!

Tiras-me o senso e o querer
a vida a conta-gotas construída e o ser,
(Deus meu, e o ser...)
Queria da terra, nuns olhos reflectida, a paz e o querer
E que a fogueira de meu peito fosse breve!

Ah, ignóbil sentimento que me tortura
em eternas brasas de morte
que me tira a razão e a sorte
e este fogo da paixão que inutilmente me consome.

Ser ou não desejar esta alma fugidía
que em outros braços se deleita em momentos a mim desejados
Ah, merda de humanidade esta a minha
que não sei partir de vez deixando as pedras no caminho.

Sim amo o impossivel que aqueles olhos a mim não dedicam
Sei que outros buscam e se desejam.
Mas que fazer que meus não procuram
e em outra saudade se deleitam?

Que se apague pois esta dor
sob um coração em gelo esculpido
Que se cale esta voz que grita
UM CIUME JAMAIS CONSENTIDO!!!!

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Alfazema


Diz a lenda que se esqueçe de seu amor quem
por um pé de alfazema passar e não o colher!
Ontem na noite colhi dois pés de alfazema
que deixei em segredo na sua porta.
Em segredo porque em segredo a desejo
porque mil palavras faladas jamais contaram esta dor
de não a ter e desejando, em outros braços vai sorrindo
Segredo pelo que calo na vigilia da noite.
Pelos gesto que não me permito
por pudor e sentido de ridiculo.
Ontem em segredo deixei dois ramos na sua casa
Dois simples ramos
Duas simples pontes da memória
Que em mim subsiste
e nela se desvanece.
Ontem deixei dois ramos de recordação
dois pedidos desse perdão já merecido.
Pouco a pouco vou perdendo a coragem
e talvez, amanhã, não mais
colherei dois ramos de alfazema!
Não por falta de recordar, mas de força!

Esta calma de tumulto feita


Esta noite não dormi,
Pegou-me em seus braços ternos!
Invade-me uma calma aparente que me prende os sentidos.

Partir, ficar, lutar pelo impossivel que minha alma sente
Indecisão deste ser em tumulto e convulsão.

Partir, rumo a nova vida nova esperança
De ser por um amor embalado que agora ausente
vai ser por certo encontrado,
por demais merecido e esperado

Ficar neste inferno onde me encontro
por escarnio e gozo atingindo e humilhado,
Não por homens, mas por mim
por não saber em que ponto me encontro
Eu que da vida me perco assim.

Lutar contra o não querer e o frio
contra á descrença e o vazio
contra estas correntes que me apertam
e o cansaço dos ciumes que me cercam

Partir, ficar, lutar quando as forças se vão indo
E eu aqui me encontro e sinto
Que nada mais sou que um ridiculo barro
Que um dia ousou desejar amar uma rocha
Perdi as forças e a vontade, eu não minto
Não o querer nem a paixão
mas humano sou e por perdão,
Que a calma e instale
E o gelo tenha a forma do meu coração!

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Noite



Irmã noite companheira de desvarios
Companheira de mil despojados
Cobre com teu manto oculto meu sentidos vazios
Com tua luz de trevas feita, meus membros cansados.
Que não acorde deste sono tragico de infernos causados,
em que moro desde o fundo do tempo
eu que já fui Principe e Magico de olhos ao vento.

Beija-me noite com teus lábios de mel
Leva contigo este peito onde o fél
Nasceu por por estas mãos plantado
Repletas de calos de tantos espinhos arrancados
Beija-me e acolhe-me ó noite serena
Que minha dor se torne pequena
Meu coração em pedra seja formado.

Põe tua doce mão em meu peito
Como outrora para acalmar este tormento.
que sejam teus dedos novo alento
E teu corpo de trevas, novo leito.
Cansado, mil vezes cansado amargurado
Neste canto recusado e humilhado
por mim mesmo traido
me encontro agora de morte ferido!

Que o novo ser imune aos humanos pecados,
Seja por ti reconhecido e aceite
Já que outros braços me foram trancados,
Por humanos medos semeados.

Irmã noite que tudo sabes, tudo vês destinado
desde as aguas donde nasci
Leva minha alma para junto de ti
que numa Fonte Santa seja novamente resuscitado
Estou cansado das pedras do caminho
Dos jogos em desvario em mil viganças ultrajado.
De gritar meu nome feito de sangue em desalinho
A ouvidos e olhos cerrados!

Não, Noite, sabes bem que não sou
Este que me pariram e que me dou
Sem medida e sem sentido algum
A quem recusa este ser novo que brutou
De outras dores, que o caminho mudou

Noite, que me cres despido do passado
Que me ves perdido, amarrotado
Leva-me hoje por piedade
Eu que abracei a verdade
E pronto me encontro derrotado,
para que se cumpra o destino traçado

Noite com teus olhos escuros de abismo
onde me perco e encontrando-me te sinto
por ti ungido e desejado
Cura por fim esta fadiga ultrajante
e que este teu filho vagueante
De ridiculo vestido e gozado,
Seja por merito elevado
Á justa condição de amante!
Mesmo se numa Fonte Santa sepultado!

Melro



Pela manhã um Melro veio bater-me á vidraça do quarto,
Trazia no bico as palhas para o ninho e no olhar a simplicidade,
de quem num singelo gesto tudo possui sem nada ter.

Cumprimentei-o como irmão que somos.
Ele infinitamente mais rico por ter no bico as palhas do ninho,
Eu pobre por nada ter para alem do desejo e da esperança.

Hoje o irmão Melro veio ver-me como se piedade tivesse da minha humanidade.
Eu que busco incessantemente o caminho do teu pensar,
Eu que não tenho a chave de nada nem palhas para construir um ninho.

Irmão Melro, dá-mo por um momento a simplicidade das tuas assas negras
O brilho teu teu bico carregado de esperança no ninho a construir,
Deixa que voe e que, despido de humanidade, se me lhe apresente
para que saiba, em seu pensamento que está em mim segura,
mesmo que entres as palhas de um ninho simples.
Mesmo debaixo destas cansadas assas negras que entre o sonho se elevam.

Irmão Melro, deixa-me habitar teu ramo,
neste desejo incontrolado onde me detenho.
Eu juro guarda-lo enquanto tu, em teu voar entre os céus e a terra,
Rogas por mim a Deus que minhas pobres palhas,
Despojos de tudo que sou,
Sejam em seu regaço depositadas onde finalmente possa descansar,
Onde finalmente possa construir nosso ninho

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Ode a uma Fonte Santa I


Embala-me nas tuas mãos de Luz,
Dá-me o descanso desse teu terno olhar
que em mil noites vi e me confortou.

Estou só sujo e cansado da jornada,
Faminto do alimento do teu corpo
Sedento da Fonte Santa que te ti brota

Em me afundo e renasço
ao sabor desse teu querer de menina,
Ah homens que em teu leito dormiram
Sem saber que o orvalho roubou teu doce cheiro!

Lembro aquela igreja onde te vi
Terna e simples como Maria
Em contemplação que não sei se de ti
Se o Deus que em se fez

Lembro a varanda debruçada sobre o verde
naquele monte a sul abençoado
onde nossos corpos em comunhão se entregaram.

Lembro o mar onde tua essência fluiu
ao ritmo vibrante do meu corpo
que em ti se encontrou e perdeu.

Lembro as musicas que nos embalaram
em doces momentos de paixão frente á lareira
Lembro o sol e as dunas cúmplices do prazer.

Lembro e não esqueço
A Luz e trevas que em teu rosto aprendi

Tudo és e nada me pertence
Somente o fraguemento da memoria desejada
Que em cada segundo revivo e me entrego

Calmo torno ao caminho com a certeza
De feliz ser por tal bênção
De um dia te ter amado!

Riquezas...

Ontem vi um casal rico

Tinha como mansão as arcadas da Praça da cidade grande,
Como haveres, um sofá velho e cobertores sem tempo.

Ontem vi um casal rico

Chovia e as gentes passavam indiferentes

O casal tinha na força daquele abraço que os aconchegava,
toda a riqueza que eu desejei.
Nada mais possuíam que o calor seus corpos imanavam
Nada mais
Tudo mais

Olhei, abracei-me e senti-me remediado.
Quem me dera aquele sofá
Mesmo quando a chuva
Tenta limpar os olhos da cidade.

Quem me dera o quente e o doce repouso
de um corpo amado em meu corpo cansado
Abracei-me e senti-me remediado.

E lá segui caminho com a mente recordando
e o na minha alma chorando.

Ah quem me dera um sofá...

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Inveja doce sentir

Hoje vi na rua os escondidos das luzes
Tive inveja!
Tive inveja daquele velho que nada tinha
E que, com olhos plácidos agradecia o pouco que lhe dava.
Eu que nada tenho e o tudo exijo noutros olhos de luz

Invejei aquele casal que sofres farrapos dormia
Aquecendo seu amor o frio que a noite trazia
E eu todas as noites tento enganar
O frio que me cobre a ausencia do teu corpo.

Olhei de lado os amantes que cumplices se reviam num ventre inchado
Eu que queria descançar o pranto em teu seio alvo.

Doce inveja que me queima a razão.

domingo, fevereiro 17, 2008

Carta a um cão (Bach)

Amigo e companheiro de sonhos e aventuras,

Um dia alguém disse que quanto mais conhecemos as pessoas mais amamos os animais. Sim, aceito!

Tenho, no teu caso, sonhado com as nossas aventuras semi-clandestinas que procuravam fugir, divertidos ao olhar reprovador de quem se dizia possuir-te. Como se alguém, alguma vez pudesse possuir a alma de outro ser da criação. Tenho saudades dos teus olhos a pedirem um afecto, em sintonia com os meus a desejarem essa mesma dádiva.

Irmão (sim, chamo-te irmão pois somos ambos feitos da mesma matéria da criação, somos ambos seres de um mesmo Universo, cada um com a sua missão. A tua de ser cão e a minha de ser humano que te saúda e respeita), tenho visto a tua alma em cada outro primo teu da mesma raça, descobrindo o quão importante foste sempre para mim.

Lembro o primeiro grande passeio enquanto tua dona decidia um futuro que sento difícil era certo, ou vice versa, tanto faz. Lembro os nossos passeios á beira mar contigo enfrentando e fugindo das ondas, o modo como também, ignorando o tamanho dos outros cães te atiravas destemidamente. As correrias no jardim atrás de ratos imaginários com teus pequenos olhos como dois astros resplandecentes de prazer.

Contigo aprendi a humildade de nos atirarmos aos problemas da vida sem medir o seu tamanho, nunca de desistirmos de alcançar o osso que achamos merecer, mesmo que o osso pense que não o merecemos. Tu ensinaste-me que ver o mundo de baixo não nos faz menores, talvez nos obrigue a lutar mais! Contigo soube o inestimável prazer que dá correr atrás da nossa imaginação e dos ratos que teimam em nos fugir mesmo que a nós estejam destinados.

Bach, outros afectos te cobriram o pelo, outros afagos, mas quero que saibas que quanto mais só me encontro mais saudades tenho dos teus olhos e da tua presença. Não me vendo por ninharias, a mim que está também destinado um belo e suculento osso...mesmo que duro de roer, mesmo que somente já em meus sonhos.

Um Afago no pêlo