sexta-feira, julho 27, 2007

De ti...


Criei-te em minha alma assim,
e contigo diluída em mim,
fui como homem crescendo,
Pouco a pouco amadurecendo.
Vi-te bela e perfeita e pura
onde outrora cresceram espinhos em terra dura.
Regei-te com minhas lágrimas de felicidade
Amei-te com um peito inundado de humanidade.
De teus olhos fiz minha claridade
De tua pele sementeira de verdade
Onde me germinava em cada dia.
Para teus beijos, cada momento vivia.
Em ti tudo começou
Em ti minha vida terminou
No dia em que inconsciente
De ti desviei o olhar de repente.

O Tempo...morreu!


O tempo morreu!
Assim reza o obituário da vida.
Era velho o tempo, tinha a precisa idade do tempo, nem mais nem menos.
Com ele levou passado e presente, e a ideia humana que um dia existirá um futuro.
O tempo morreu, coitado!
Com ele arrastou o bem e o mal nele cravados na imensidão do seu...tempo!
Que resta agora para alem deste vazio?
Sem as referencias de ontem, sem o prazer deste instante?
Flores não floriram pois não há mais tempo.
Os namorados permaneceram eternamente num momento sem tempo.
As crianças não mais nasceram pois foram feitas fora do tempo
O tempo morreu, coitado!
Tudo permanecerá neste mesmo instante.
Tudo irremediavelmente parado num tempo que morreu logo, tudo irremediavelmente morto.
Mas, se o tempo deixou de existir, então é tudo eterno!
Sim, eternamente os namorados se amaram,
Sim, eternamente as crianças sorriram
Sim, eternamente cresceremos rumo á eterna sabedoria.
Sim, eternamente erraremos para eternamente corrigirmos.
Sim, eternamente existiremos como massa humana de sentir.
Tudo é já eterno a cada momento!
Não mais o passado que nos castiga
Acabou o presente que nos condena,
Adeus ilusão do futuro que nos atemoriza
Ah, o tempo morreu...viva o tempo!!!
(Que bom é dormir embebedado de metafisica...)

quinta-feira, julho 26, 2007

Carta Aberta IV

Perdi-me no tempo! Perdi as memórias que me levavam até o teu corpo em chama. Perdi a força para reclamar o que senti ser meu por direito de te amar.
Não tenho tempo para te mostrar os equívocos que sustentas nessa permanente roda morta de sentir. Não, não tenho mais palavras para desenhar em teu espírito o quadro límpido da minha existência. Não, não existe em ti mais espaço para o rasgo de loucura de que é feita a vida e dela se alimenta a paixão, porque, há muito ela partiu para outros mares. Não existe mais dentro de ti a vontade para o abraço, a cumplicidade.
Partiste. Levas-te contigo razões que só tu entendes e alimentas com humanos medos que recusas enfrentar. Carregas a esperança que semeas-te mas que não te pertence, é minha! Foi-me roubada do peito, da alma, do querer! Partiste enfim rumo a um outro destino que desconheço mas de onde não faço parte, como não faço já parte de ti porque me expulsaste como se expulsa o cão que nos estraga as flores do jardim, buscando um espaço para se deitar!
Tínhamos tudo. Jaziam a nosso lado os escombros de um passado sob o qual se haveria de construir, pedra a pedra, com o suor do desejo, um sólido presente. Mas não houve tempo, porque nunca há tempo quando não existe a vontade que o amor nos oferece. Porque o tempo escasseia sempre a quem não sabe pegar numa mão, ter a calma para escutar e percorrer caminhos lado a lado. O tempo é algo que nunca existe quando não existe espaço para ele correr e com ele nos levar. Porque o tempo não se compadece de quem faz do passado seu presente. Ah o tempo, o tempo...
Tínhamos tudo recomeçado, como duas crianças que aprendem a ler, a juntar as letras, que vão construindo as palavras dos textos da vida, mas os livros foram arrancados e jogados na fogueira das nossas fracas vaidades.
Tínhamos tudo menos o direito de recusar o que nos foi oferecido como Graça de um Deus maior. Foste a minha maçã e eu a tua serpente (ou vice versa, não sei) e juntos cometemos o pecado capital que nos fechou a porta do paraíso.
Sei que vou passar os dias neste porto donde partiste esperando ver-te chegar de surpresa. A alma é assim, custa a acreditar na dura realidade que a fere. Tem medo do escuro depois de ter vivido na luz. Sei que vou ainda ter esperança e que a vou matando pouco a pouco, não sabendo contudo, se a mato para sobreviver ou se, aniquilando-a, me acabo também pouco a pouco.
Sei que os dias se vão suceder e em meu peito vai nascendo um deserto de impossíveis oásis.
Sei de sobra que não vale a pena esperar e que, nessa espera sem sentido, me vou consumindo, esvaziando em choros inúteis e patéticos enquanto tu, lá longe ris, talvez zombando deste pobre mosquito que agoniza na tua teia. Jamais recordarás o prazer de rir-mos das coisas inúteis, de, como duas crianças brincar-mos junto ao mar! Tudo isso permanentemente possível e irremediavelmente tornado nada, feito indesejo. Onde está a minha Luz de outrora? Que nova lamparina a acolhe?
Sei que a solidão vai ser minha fiel companheira no suceder entediante dos dias. Um após outro, irremediavelmente iguais, insuportavelmente vazios, simplesmente ridículos como eu!
Mas sei também que depois de um túnel talvez exista uma luz. Sei que talvez deseje partir rumo a outros destinos onde possa tentar me encontrar, ou somente esquecer onde me perdi, esta dor que todos os dias me desperta em incontidos espasmos .
Amei, como nunca amei, perdi na mesma proporção desse amor. Cresci como nunca tinha crescido antes e, hoje, nada mais resta de mim que um simples grão de mostarda, pequeno e amargo. Quis correr, mas no campo aberto, que ilusoriamente me foi oferecido, construíste um muro de espinhos onde me esbarrei e onde sangro grossas gotas de mágoa.
Se não é o tempo que tudo cura mas sim o amor, então que se não me morra a esperança de ser curado. Que se me cresça ainda a capacidade de esquecer!

segunda-feira, julho 23, 2007

Dia-a-dia, um dia!

Ontem vi-te assim adormecida com a inocência de uma criança.
Chegava a casa ao fim do dia de trabalho. Sabia da tua espera mas não pude terminar a maldita reunião que, mais não produziu, que esta saudade de te encontrar.
Tem sido assim nos últimos dias, encontrar-te adormecida no sofá da sala. Sento-me esfumaçando um cigarro enquanto admiro a tua beleza cansada do teu dia. Ali fico mergulhado nos meus pensamentos, desejando ser parte do teu sonho, ser complemento do teu sono. Temos tidos nossas discussões, mil vezes tidas no segredo de cada coração mas, no fundo, somos parte de uma mesma massa.
Ali, vendo o fumo do cigarro dissipar-se no ar penso no teu corpo adormecido, nos anos que levamos juntos, na felicidade contida que minha própria alma gera somente pelo facto de existires. Penso no dia em que te conheci em casa de uma amiga comum, no teu ar assustado e no meu coração maravilhado. Penso, somente penso! Ah, Mulher, Amiga e Amante, como seria tão mais fácil não ter de te deixar de manhã, de poder levar a nossa filha á escola. Quanto gostaria de te ver também crescer.
Hoje cheguei tarde, amanhã...amanhã, que se dane, vou tirar o dia de folga. Vou passar o dia com a nossa filha e buscar-te ao emprego. Vamos depois passear á beira mar e vê-la fazer castelos na areia, que o mar vai destruir com o sal das ondas. Sim, amanhã vou exercer o direito que me prende a ti, a ela. Sim, amanhã, mas agora vou, simplesmente admirar o teu respirar ausente no mundo dos sonhos onde te busco. Queria tanto esse teu rasgo de saudade, sentir que te completo. Hoje queria poder sentir o calor do teu sorriso "o mais belo do mundo".
Termino vagarosamente o cigarro e pego em ti nos braços tentando ter a delicadeza de quem pega numa gota de orvalho. Murmuras algo que não entendo e a que respondo com um beijo na testa. Como poderia um pintor pintar esta cena e chamar-lhe simplesmente amor.
Pego em ti para te levar para a nossa cama onde, em breve me afundarei no teu calor. Depois passo no quarto da nossa filha e sinto o teu cheiro no beijo que lhe dou na testa.
De repente, com dolo, acordo estremunhado e vazio. Não tinha sido nada mais que um sonho. A realidade abate-se como um terramoto e vejo que a cama é enorme, preenchida pela tua ausência. Fria, sem vida! Eu eu, que já não consigo adormecer, arrefeço também pouco a pouco, até ser embalado pelos frios braços da morte, levando-te em meu peito.

segunda-feira, julho 16, 2007

Desolhares

Olhas e não vês
Passas e não reparas nessa flor que a teu lado definha
Segues surda, muda, cega e queda ao olhar que por ti reclama

Ah, Princesa pura e bela dos meus sonhos de criança!
Corres em busca de agarrar um tempo sem passado,
E seguras fortemente um presente sem futuro.

Ah, mulher, amiga e amante!
Ah, mil vezes Ah, neste grito mudo que solto por ti!
Ah, mil vezes!

Não queres tu ver que em ti habito como um vagabundo sem rumo,
Preso no corpo interior que é teu,
Buscando o porto seguro da tua alma onde finalmente possa repousar
Eu que cansado estou de caminhos em que te encontro e te perco.

És sim e serás a Princesa inalcansavel onde me diluí.
Como viver agora se de mim já não sou?
Se outros me ocupam o espaço e me expulsam com repulsa?
Como viver liberto dentro deste palácio onde um dia me prendi?

Não respiro, sem ser por teus pulmões,
Não me bate um coração que teu não seja,
Não vêm meus olhos mais que os teus enxergam,
Não ouço mais o mar sem ser com teus ouvidos.
Não se me chegam os odores sem ser com teu nariz.
E o toque?! Ah o toque sinto-o com tua pele.

È neste não existir existindo em ti,
Que já não sei mais onde me começo e termino,
Onde acordo ou me adormeço,
Se de dia ao á luz da Lua.
Perco-me tentando me encontrar, dentro do teu peito.

Chama-me, para que siga o canto da tua voz de sereia,
Chama-me para que repouse finalmente em teu regaço.
Chama-me, por favor.
Para que na baía do teu peito,
Finalmente descanse ou,
de vez morra como uma semente, para que,
um dia em ti volte a germinar.

Ou simplesmente morra dentro de ti para que jamais te abandone
Para que nunca mais deixe de ser parte de teu ser.

segunda-feira, julho 02, 2007

Oração

Ave Maria,
Infinita és tu em meu ser.
Tu tudo ocupas,
Em tudo começa e acaba.

Ave ó Cheia de Graça
Que tornas as trevas em radioso dia
Que sob teu manto de luz guias meus passos débeis.

Bendito ventre que te gerou,
Bendito peito que alimentou
E, mil vezes bendito os teus passos
Que a meu lado te fazem caminhar.

Desejos

(S.Torpes)

Quero voltar ás origens!
Renascer de novo nas mansas águas do teu corpo.
Quero ser a onda que te abraça.
Quero voltar á origem,
Ao teu ventre de mulher, á tua boca de amante.
Quero mais uma vez afogar-me num beijo e renascer homem feito paz.

Ah, quero tudo isso.
E quero que dure o eterno instante de uma vida!

Foi, È, Será

Foi com a alma em carne viva que redescobri a magia do teu sorriso,
Foi com a mesma admiração de outrora que redescobri a luz dos teus olhos
Foi com a mesma entrega que fiz teu o meu corpo num espasmo de prazer.
Foi como se o tempo fosse nosso que te olhei e a ti me entreguei.
Foi com a incerteza do momento que toquei a tua pele de seda.

È com o balançar dos passos de criança que caminho para ti
È com o medo da luz que abro janelas e deixo o sol beijar meu corpo cansado
È com o hábito da solidão que te deixo entrar e tornar tua a minha casa.
È com a voz embargada pelo silêncio que faço discursos sem nexo.
È com timidez que me entrego em teus braços e neles planto um rio.

Será com a minha boca sedenta que beberei da tua fonte santa.
Será com a minha vida que farei por honrar a tua.
Será com um sopro de humanidade que me farei teu norte
Será com este coração apertado que te amarei
Será em ti que me farei homem e, em mim, te farei mulher.