segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Melro



Pela manhã um Melro veio bater-me á vidraça do quarto,
Trazia no bico as palhas para o ninho e no olhar a simplicidade,
de quem num singelo gesto tudo possui sem nada ter.

Cumprimentei-o como irmão que somos.
Ele infinitamente mais rico por ter no bico as palhas do ninho,
Eu pobre por nada ter para alem do desejo e da esperança.

Hoje o irmão Melro veio ver-me como se piedade tivesse da minha humanidade.
Eu que busco incessantemente o caminho do teu pensar,
Eu que não tenho a chave de nada nem palhas para construir um ninho.

Irmão Melro, dá-mo por um momento a simplicidade das tuas assas negras
O brilho teu teu bico carregado de esperança no ninho a construir,
Deixa que voe e que, despido de humanidade, se me lhe apresente
para que saiba, em seu pensamento que está em mim segura,
mesmo que entres as palhas de um ninho simples.
Mesmo debaixo destas cansadas assas negras que entre o sonho se elevam.

Irmão Melro, deixa-me habitar teu ramo,
neste desejo incontrolado onde me detenho.
Eu juro guarda-lo enquanto tu, em teu voar entre os céus e a terra,
Rogas por mim a Deus que minhas pobres palhas,
Despojos de tudo que sou,
Sejam em seu regaço depositadas onde finalmente possa descansar,
Onde finalmente possa construir nosso ninho

1 comentário:

Cristina Paulo disse...

:) Todas as manhãs vejo os melros, e também os invejo...
Bjos meus