sexta-feira, maio 30, 2008

Lado Obscuro

Vejo o Sol que se abate sobre a planicie
Cobrindo com trevas a terra e as coisas.
Quedo estou e mudo neste escuro abraço que vislumbro
Nesta noite que revela a outra face do dia,
Quedo de gestos, agitado de pensamentos.
Gosto da noite!
Sempre pensei que Deus criou a obscuridade para dar um novo sentido á luz.
Acendem-se as luzes ao longe e o silencio grita.
Gostar da noite é amar o dia tão somente.
Que pensar do calor que nos alumia,
Sem a noção breve do brilhar das estrelas?

Hoje falaram-me do lado obscuro da alma.
Farto que estou de falsos brilhos
Cansado do calor perfido calor que queima
È bom sentir, por momentos a humana noite
Onde sempre brilhará uma estrela
Onde sempre se espera a certeza da aurora.

quinta-feira, maio 29, 2008

Rio

Entre ambas as margens que somos
Corre este rio de palavras que nos une e separa.
Deixa-a correr livre e feliz
Já vejo a ponte no caminho...

O Pastor de Memórias

Memórias são meu rebanho.
Com elas percorro montes e vales,
Entre o sol e as estrelas.
Faminto de alma, este rebanho que me acompanha.
Memórias famintas, sedentas de repouso num qualquer estábulo do ser.
Percorremos cada pasto, cada planície escapando ás armadilhas do tempo.
Passamos junto á Fonte que secou, vertendo as aguas em outros rios,
para alem do caminho em que estamos.
Foram morrendo de sede as memórias
mas felizes pela ilusão de ainda um dia matar a sede
em outra agua pura!

sábado, maio 24, 2008

Desejo e Raiva

Passam as horas neste tempo sem retorno.
Eu, espectador de emoções alheias, forçado.
Esperei o gesto que no gesto se completa e revê
Mas, o escárnio de medo disfarçado,
Jamais sublime ou esforçado,
Poderá algum dia surgir, na surpresa parido e emanado.
Outro corpo afecto tem, mesmo que na mentira gerado.
Quis ser o alento realizado
Na verdade, talvez amado,
mas o que obtive foi, da vida expulsado
E num inferno de ausência, desterrado.

Sigo os passos, em meu caminho, esforçados
Escutando ao longe o riso de outros beijos trocados,
Esperando que chegue a minha hora,
E que em paz viva num agora,
Que em outras memórias se demora.

Ah, que se calem trovadores e canções de amor
Que o silencio seja a musica desta dor
E que um gesto de coragem e desamor,
Me liberte desta desmerecida prisão,
De ter um dia desejado aquela que da razão,
Faz seu caminho, semeando gozo e ilusão.

Aqui me entro em silencio imposto
Neste limbo de saudade e desgosto.
Pasto de humano divertimento
Querendo quem em outro abraço buscou alento.
Mas que (quem sabe?) somente em meu sentiu o intento
De compreensão e humano tormento.

Príncipe não sou, somente humano.
Imperfeito em minha natureza, insano
Mas destemido ao julgamento mundano!
Perdi-me em castanho olhar
Pereci pouco a pouco com outro desdenhar
Porque é difícil e exigente esta arte de amar
E a pobre vaidade das aparencias, recusar.

Outros riem também deste vil segredo,
Que em vãs palavras escrevo.
Pouco a pouco em raiva me revelo,
Mesmo que em silencio me guarde e me encerro.

quinta-feira, maio 15, 2008

Contrastes

Hoje choveu e isso é normal.
Que realidade encerram as gotas de cristalinas para alem de existirem?
Hoje choveu e o dia foi enfim…molhado.
Abri a janela e vi as arvores e as coisas imunes á água que as cobriam.
Sorri simplesmente e agradeci.
Que bom poder sentir a chuva lá fora.
Quando cá dentro o sol desponta
Nem que seja por aquele momento de ilusão
Que antevê qualquer trovoada.

Invernia

Que bela a chuva que cai lá fora
e eu cá dentro todo de terra inundado!
Aquela terra castanha e quente
que ao toque da chuva se desprende em multiplos odores.


Assim são os olhos de uma mulher
quando chora,
Assim seu cheiro quente quando ama sinceramente.

Assim, somente e não mais que assim!

Medo

Acende a noite, o desejo,
na palavra a imagem ausente do beijo.
A prometida incerteza dada
á vontade que, proibindo, deixo
que de mim, sem pudor, invada.