Quando me procurarem, se me procurarem,
Que não creio que me procuram jamais,
Não vão aos lugares onde não existe humanidade.
Não me busquei no meio da multidão iluminada e platinada das ruas coloridas.
Não vale a pena chamarem-me no lugar onde os risos são a moeda de troca.
Não estou já, parti!
Encontrem-me entre os vagabundos com olhos de maresia,
Gritem por mim aos que bebem nas palavras o doce sentido.
Entre os deserdados da vida e ricos na filosofia que não vem nos vossos livros.
Estarei nas areias da praia escutando o silêncio das ondas ao vento.
Sentindo o cheiro das algas e iludindo-me de ser eu proprio.
Não sou o aprumado conhecido.
Encerro já mistérios por desvendar em momentos de bruma.
Não a vós que passam apresados pelos caminhos,
Mas a quem tenha tempo de contemplar as cousas e as flores.
Que saiba ler no olhar o desejo simples de um beijo entre o rosmaninho bravo do campo.
Ah, não me venham com aquele gelo por quebrar,
Que o unico gelo é a morte!
Tenho meus parcos panos que vos enfrentam.
Não, não me busquem - que eu sei que o não farão – pois não sei estar.
Sou o que falou alto nas cerimonias,
O mesmo sem maneiras que era olhado com o vosso desdém,
Enquanto escarneciam baixinho do vestido amarelo da anfitriã a quem amavelmente sorriam.
Não, não me procurem na vossa aparência e vazios valores.
Eu sou o mesmo sujo e feio com que rasguei o ventre da minha mãe.
Não pretendo os vossos aplausos nem as vossas lágrimas de gotas de pedra.
Pretendo-me inteiro, bêbado de realidade e lúcido de poesia
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