sábado, novembro 15, 2008

Procura

Quando me procurarem, se me procurarem,
Que não creio que me procuram jamais,
Não vão aos lugares onde não existe humanidade.
Não me busquei no meio da multidão iluminada e platinada das ruas coloridas.
Não vale a pena chamarem-me no lugar onde os risos são a moeda de troca.
Não estou já, parti!
Encontrem-me entre os vagabundos com olhos de maresia,
Gritem por mim aos que bebem nas palavras o doce sentido.
Entre os deserdados da vida e ricos na filosofia que não vem nos vossos livros.
Estarei nas areias da praia escutando o silêncio das ondas ao vento.
Sentindo o cheiro das algas e iludindo-me de ser eu proprio.
Não sou o aprumado conhecido.
Encerro já mistérios por desvendar em momentos de bruma.
Não a vós que passam apresados pelos caminhos,
Mas a quem tenha tempo de contemplar as cousas e as flores.
Que saiba ler no olhar o desejo simples de um beijo entre o rosmaninho bravo do campo.
Ah, não me venham com aquele gelo por quebrar,
Que o unico gelo é a morte!
Tenho meus parcos panos que vos enfrentam.
Não, não me busquem - que eu sei que o não farão – pois não sei estar.
Sou o que falou alto nas cerimonias,
O mesmo sem maneiras que era olhado com o vosso desdém,
Enquanto escarneciam baixinho do vestido amarelo da anfitriã a quem amavelmente sorriam.
Não, não me procurem na vossa aparência e vazios valores.
Eu sou o mesmo sujo e feio com que rasguei o ventre da minha mãe.
Não pretendo os vossos aplausos nem as vossas lágrimas de gotas de pedra.
Pretendo-me inteiro, bêbado de realidade e lúcido de poesia

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