segunda-feira, março 03, 2008

Auto-Biografia (breve)

Era uma vez!
Uma, mil pouco importa quando se é!

Era, pois, uma vez, eu!

Do ventre de minha mãe fui arrancado por entre agua, sangue e humanidade
Gritando ao vento e á vida que ali estava, de sonhos carregado.
Que braços me abraçaram e olhos me olharam somente imagino
nos doces momentos quando de deleito
lembrando também o peito, onde chorava e me saciava.
Os olhos castanhos profundos que tantas vezes foram meu refugio!

Cresci, por vezes em sabedoria, por vezes em graça,
mas sempre em humanidade despreocupada
caminhado os fáceis caminhos que á luz me conduziam

Cresci por entre campos e mar,
na cidade grande e na aldeia pequena
aprendendo segredos da terra escura
A mesma que reflectiam os olhos castanhos.

Cresci amando as cousas e os animais
aprendi da criação a irmandade oferecida
banhei-me em mil rios e ondas e assim me fui fazendo
homem.

Amores tive mais que a humana memória recorda
e pensei que guardava tudo num simples coração
Ah, doce ilusão de quem crescia.

Gerei vida por distracção e amei-a por convicção
Fui bom e mau e tudo ao mesmo tempo
Crendo somente ser esse o meu destino.

Mas o abismo, para onde alegremente caminhava surgiu!
Do alto da vida e do riso caí!
Do alto, meu Deus bem do alto, rompendo-me em mim feridas
de humanidade acumulada.
Gritei bem alto por socorro e vi-me só
Da mesma solidão por mim cultivada em multidão.
A meu lado escorria o sangue podre que me inundava.
Pouco a pouco lambi minhas chagas
Ergui me do fundo onde jazia
e donde as rapinas aves esperavam já o festim final.

Ergui meus braços ao Céu
Os olhos castanhos de minha infância
partido tinham já, outros me iludiam e me chamavam
sorrindo pela humanidade despedaçada.
Pouco a pouco, com mãos ferias e pés quebrados
me fui regendo para lá das trevas da ravina
Pouco a pouco, com as forças que me restavam
subi a pulso minha humanidade
revi as farpas que me tinham flagelado
as mesmas com que no passado flagelei sem saber

Subi, cresci, gritei de uma raiva de medo e cansaço
Subi, cresci passo a passo espiando meus pecados
Curando minhas magoas e cansados
Subi, cresci e cresço
Não mais olhos castanhos por mim reclamam,
Não mais um peito aberto onde descansar
mas com a alma toda em carne vida
Sei que cresço e me reconstruo
Sei que me torno Homem

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