quinta-feira, setembro 27, 2007

Regresso


Ontem voltei a deitar-me naquela cama vazia nesse ritual diário a que estou irremediavelmente preso. Todos os dias retorno a esse mundo meu, a que se chama quarto, com o mesmo espírito de dever cumprido: vivi somente.
Lentamente me dispo das roupas do dia como quem se despe, ilusoriamente das mágoas carregadas, e visto o pijama como quem recebe uma nova pele na esperança de poder receber uma nova vida. A cama em desalinho espera-me, como me espera a vida desarrumada por "erros meus, má fortuna e amor ardente" que se apagou em outro peito mas, que em meu, teima em queimar. Deito-me em busca de um descanso que queria merecido, procurando, sem medo o sono que se aproxima, mas não consigo. Perco-me no meu olhar preso no Cristo que me olha com condescendência e perdão, minha única companhia, meu único interluctor de mágoas humanas. Que crime cometi para assim ser guilhotinado até á eternidade? Nada mais duro que as correntes a que nós próprios impomos sem piedade. Nada mais resta senão pensar!
Penso no gosto do seu seio em meus lábios em noites de paixão, do calor dos corpos vencendo o frio de Inverno, do seu perfume inundando a alma. Penso, e em meu pensar sinto o pesadelo da ausência, a dor de outra presença naquele paraíso onde já habitei.
Poderá o outro ser mais belo que eu (o pobre Alberto, mil vezes escarnecido na sua rusticidade de homem de campo), poderá ser portador de outro espírito mais profundamente tocante, mas não tenho pena de mim porque amei verdadeiramente apesar de humano. Acredito que quem ama, mais tarde ou mais cedo será feliz.
O sono vai-se apoderando do meu corpo cansado e da minha mente cheia de funestos pensamentos. Amanhã será uma nova etapa, um novo dia recheado de ensurdecedores silêncios. Amanhã serei o Alberto feliz por estar vivo mesmo que, algures tenha deixado adormecido o meu amor embalado em outros braços.

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