terça-feira, agosto 28, 2007

Poema em tons de castanho

Estou com necessidade de escrever!
Hoje acordei e dei com o céu de um cinzento que nos neboliza as ideias.
Esta noite dormi naquela cama de sempre onde, de tão grande me perco, em intermináveis peregrinações
Passei a noite buscando um poema que me embalasse, um sentimento, um calor que me confortasse. Mas a noite tardou em cair sobre o meu corpo cansado e a minha alma doente.
Procurei inspiração nas árvores do jardim e nas suas folhas que dançavam ao vento. Busquei sentidos no Cristo que, complacente, me olha do fundo da minha cama, como tendo pena de mim.
Incapaz, contudo de se desprender da cruz e me vir pegar na mão e me mostrar o destino, como a uma criança num parque de diversões (como gostava do parque de diversões da minha infância). Mas Ele ali permanece imóvel, observando-me com aquele seu rosto de perdão e sangue.
Naveguei pelos recantos da memória tentando encontrar algo onde me ancorar, um porto seguro, ou simplesmente um canto manso.
Subitamente, sem pedir licença, que o sentir não tem essa educação, surgiu no recanto da saudade a visão de dois olhos castanhos, abertos ao mundo como dois portões escancarados de onde saía a mais clara das luzes. Duas janelas para um mundo que mil vezes imaginei e por onde correm mitologias várias.
Aí encontrei a inspiração para um poema perfeito, eu, pedaço de nada sem importância, e que imperfeito sou, desde que rasguei o ventre de minha mãe.
Eu, o Alberto que um dia sonhou poder aspirar ao alto da montanha, acabando por se estatelar por não saber caminhar ainda, ou por querer correr sem sentido, provocando o riso de quem passa. Eu, o ridículo que se julgou poder ter ciumes, quando nada lhe pertence. Eu o vil, capaz de pecados que se dizem sem o perdão dos homens e o gozo das mulheres. Encontrei assim a fonte de inspiração para o mais belo dos poemas.
Aquele mesmo que não escreverei pois sou analfabeto em poesia e iletrado por vocação, mas que o construirei e sentirei cá dentro deste corpo desfeito, desta alma enferma.
Esse mesmo, com a forma de dois grandes olhos castanhos e que se construirá com as letras puras do teu nome!

Sem comentários: