quinta-feira, junho 18, 2009

Acordar Louco

Hoje acordei com o sol lá fora e a névoa cá dentro.
Ambos são realidades da minha natureza,
O sol brilha que assim tem de ser e a névoa esconde as vergonhas da razão.
Cada um cumpre a sua função com distinção.
Um de iluminar e outro de ocultar.
Tenho uma fome no espírito:
Fome de loucura e desvario.
Eu que louco me tornei e vazio de gestos que me alimentem a insana mente.
Fome de uma loucura que transborde e se afogue na inesperada certeza.
Sei que sou louco e na loucura espero a loucura não chegada.
Ah ridículo aguardar!
Como se não soubesse que nada existe para alem da realidade!
Que a metafísica nada mais é que a minha vil imaginação de poeta menor?
Querendo esquecer que do caminho para onde olho nada virá se não o vento e a areia que me cegam os olhos!
Não sei nada disto por ser da loucura que espero e não chega.
Merda! Pronto disse!
Outros podem viver e rir e criar e se chamar de poetas, mas eu não!
Eu que sou louco e de loucura esfomeado e sedento.
E esta névoa que minha névoa encerra.
Não sei o que esconde a minha humanidade
Se é somente esta forma de esperar o que, de desespero já se avista.
Sim, louco sou. E ridículo e palhaço que, com olhos rasos de agua, faz rir
Sim louco, e depois?
Louco por vazio de loucura me entregar a desditas literárias que nada valem
E que acabam, invariavelmente num qualquer caixote do lixo da memória!
Louco por desejar uma loucura onde descanse esta mente exausta!
Onde, finamente possa lavar meus olhos da areia, que a espera me recompensa.

Eureka

Eureka!!!! Descobri! Já disse o cientista!
Eu que de ciência entendo pouco
Eu que de metafísica estou inundado.
Ciúme é metafísica
Metafísica é este abraço que sinto.
Não, não é amor que sinto, é Querer!
Querer vazia porque me dou.
Querer sem recolha, sem imagem espelhada em mim.
Descobri, não é amor que sinto.
Amar é calmo
Querer é tumulto de paz construído.
Uma onda que se espraia na areia da vida
Uma fusão, um querer não querendo.
Um desejo ignorado.
Não, não é amor que sinto!
É Querer que me rouba a alma e me perde nesta busca!
Neste achado desencontro!
Hoje acordei com a escrita nas mãos
Escrita pobre como pobre é o que dou.
Desejo somente o por do sol na planície.
O inebriante odor do mar que a nossos pés implora nossos corpos.
O riso sincero de teus lábios perante a loucura.
Os olhos que não sei mais se mentem ou sinceramente imploram.
Sim sou um doido com direito a sê-lo!
Porque tão somente.
Não é amor que sinto, é desejo de Querer.

Ao corpo me fiz paixão

Ao corpo me fiz paixão
Naquele beijo roubado á razão.
Onde em vida fui sepultado!
Em cada palavra tua, embriagado,
E pelas trevas desse olhar, iluminado.

Em cada suspiro de entrega, renasço
Em cada abraço me desfaço!
Nessa chama onde queimei o destino,
No momento em que, de alma e desatino
Fui parido, criado, cuspido.

Que se calem as vozes de antanho
Que se faça silencio entre o rebanho
De cadáveres de inveja e medos trespassados!
Que o som seja somente os dos beijos esmagados
Entre nossas bocas sedentas, nossos corpos esfomeados

Seja teu prazer meu veneno!
Meu respeito e honra, tua vida
Seja teu corpo minha ultima morada.
E nossas vidas, o caminhar desta jornada
Que jamais sejam teus olhos a traição demonstrada…

quarta-feira, junho 17, 2009

As palavras e o vento

Devolve-me as palavras que á boca me arrancaste num beijo salgado!
Já as velas do barco aos ventos se estendem anunciando a viagem,
Quero levar as palavras,
Para o mar profundo que me reclama seu!
Devolve-me a marca da tua pegada na areia!
Devolve-me a sanidade, que na loucura já não sei andar!
Eu que louco fui, irremediavelmente louco,
Transmutavelmente insane e vil.
Aguardo na praia o bote que me leve,
Às planícies salgadas pela espuma dos tempos!
A tempestade sussurra teu nome como um grito!
E o peito se me queima lentamente em desvario.
Quero voltar ao mar e perder-me em agua,
Nos cantos malditos das sereias!
Quero voltar á Ilha Sagrada onde me acenam as sombras,
Se não a encontrar então que me perca buscando.
Devolve-me as palavras que em silencio guardas!
Preciso de vento que me encha o peito!