sábado, novembro 29, 2008

Esboço de soneto

A dama gelou seu peito de pedra,
Resignou-se ao oculto que a alma encerra.
Não mais a esperança de navegar em paixão
Na memoria quente do silencio sem razão.

Calaram-se os gemidos partilhados em segredo
Que na bruma do tempo exorcizaram meu medo.
Resta a marca feita ferida nesta alma feito fado,
Que me acalenta e resiste em meu olhar bardo.

Que navio me levou até seus braços
navegando para a ilusão remota dos abraços?
Querendo o que não quer seu sentir,

Por descrença na aurora que porvir.
Assim ledo e morto aqui me resigno
Ao meu ridículo e imposto destino.

sexta-feira, novembro 28, 2008

Pesadelo

Foi na hora sagrada do poente que sonhei teus braços, ardentemente!
Naquela névoa envolvente dos nossos abraços.
Quanto mais sonhava mais despertava para o pesadelo
Que o leito de oiro feito mortalha do desejo á alma revelado.
Vieram as fadas e ninfas em procissão cerimoniosa,
Trazem em ramo de prata o coração e agua para a boca do beijo sequiosa.
Então fui das cinzas, elevado á condição de ser resgatado.
Ao mar de bruma me lancei cortando a espuma,
Na vã esperança do momento em que os Deuses ouvissem meu pranto,
E o transformassem na doce música do teu encanto.
Assim me detive, morto, vivo, mareado.
Esperando na fímbria das tuas pérolas mãos ser resgatado.

quinta-feira, novembro 27, 2008

Avalon


Já ao longe já se vislumbra a bruma da ilha,
Sob os raios doirados do sol poente.
Lanço finalmente o meu corpo cansado ao olhar que na praia espera,
Alcançando que estou a terra prometida daqueles braços sagrados.
Lanço minha mão aos remos onde me perco,
Nesta já longa viagem por mares agrestes.
Serei eterno? Ou eternamente embalado neste sonho breve?

segunda-feira, novembro 24, 2008

Innana

Da antiguidade ao presente, neste hiato breve de séculos.
Deusa aos mortais renascida na orla do mar,
Com voz de maresia e cabelos de algas feitos.
Do amor e prazeres guardiã, ao amor feito tumulo feito nada.
Com tua espada de palavras desbravaste os caminhos do sentir.
Amaste e perdeste, julgas, nessa inocência de menina
Perdido foi quem teu espírito antigo recusou.
Vejo-te olhando as ondas no sereno êxtase da partilha,
Ou somente o rio que de teus olhos brota,
Onde as tágides fazem sua morada
Vejo a tua alma em comunhão.
Solitariamente nossa.
Solitariamente…aos homens entregada,
Vejo…simplesmente…
Não sinto...sorrio

Tejo


Olho calmamente o rio nesta tarde de Outono.
Os barcos vão e vêm nesse bailado estudado.
Olho e peço, ás águas turvas do Tejo
Que me embalem e acolham minhas preces
Que lhes jogo com a esperança vã de uma chegada,
Com o desejo ardente de uma partida.

Podrá

'Podrá no haber poetas; pero siempre habrá poesía.'

Podrá el mundo terminar hoy mismo en mis manos
No más salir de mi cuerpo las ganas eternas de pasión.
Podrá si, pero se quedaran mis breves palabras de desamor.
Siempre estarán tu sonrisa en la imagen quedada instante
En que el sol se firmaba en tus labios.
Se quedará cuando tu y el mar se entre miraban
(Pediendo el mar, las algas dulces que le robaste y donde construiste tu pelo,
Tú rescatando el agua que le diste de tus ojos)
No conozco las líneas suaves de tu cuerpo,
Solamente el misterio que tiene tus palabras breves.
No te busco entre la gente aun que te espere a lo atardecer
Entre las olas de la playa que me traen la ilusión de tu canto.
Podrá no haber poetas mas aun habrá tus manos donde reposará la poesía.

sábado, novembro 22, 2008

Desejo

Queria o mar na palma das mãos.
Abarcar em mim a maresia.
Entender-lhe os lamentos quando nas noites o escuto.
Queria tão-somente não dizer que te amo.
Senti-lo somente dentro dos meus abismos.
Ferindo-me na palavra desta tua ausência sempre presente.
Queria cobrir o corpo com as algas dos teus cabelos.
E adormecer como um menino cansado
No porto alvo do teu peito,
Sonhando os momentos em que em teu rio me banhei,
Das tuas fontes bebi.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Arvore

Tu, que no principio eras apenas
um grão, uma semente.
Depois,
Rasgaste a terra,
Suavemente
Para te tornares num fragil arbusto.
E,
Com ajuda do irmão sol e da irmã chuva,
te tornaste numa imponente criação da mãe natura.
Então,
Vieram os cientistas para te estudar.
Dicoteledonia! Gimnospermica! Espermatofita!...
Mas tu
Continuaste
a crescer.
Simples!
Veio então o dia em que para ti o sol deixou de brilhar.
Cortaram-te.
Transformaram-te em papel, moveis, casas...
A ti
que no principio eras
um grão, uma semente
Que
pouco a pouco
te tornaras
ARVORE


Escrito em 14-03-85. Premio de poesia (!)

Um dia...

Um dia serei imenso!
Serei entre todos escolhido para a mesa do banquete.
Ah um dia…
Até lá me redimo e descubro,
No caminho breve das palavras!
No doce sabor dos teus lábios,
Que relembro para me esquecer!
Na mortalha perenemente eterna do teu corpo!

segunda-feira, novembro 17, 2008

Quase

Na vida podia ter sido quase tudo!
Fiquei-me no quase nada.
Faltou o beijo para o desejo,
O perdão para ser paixão.
Foi na quase memória em que me desfiz,
Neste quase sentimento de amante perdido,
Nas ondas do mar que correm na praia.
Faltaram-me os braços para ser paz.
E o terno peso do teu rosto no meu peito.
Quase tudo num quase espaço deste tempo.
Naquele simples momento em que quase fui teu!
Quase neste instante em que te espero.

sábado, novembro 15, 2008

Procura

Quando me procurarem, se me procurarem,
Que não creio que me procuram jamais,
Não vão aos lugares onde não existe humanidade.
Não me busquei no meio da multidão iluminada e platinada das ruas coloridas.
Não vale a pena chamarem-me no lugar onde os risos são a moeda de troca.
Não estou já, parti!
Encontrem-me entre os vagabundos com olhos de maresia,
Gritem por mim aos que bebem nas palavras o doce sentido.
Entre os deserdados da vida e ricos na filosofia que não vem nos vossos livros.
Estarei nas areias da praia escutando o silêncio das ondas ao vento.
Sentindo o cheiro das algas e iludindo-me de ser eu proprio.
Não sou o aprumado conhecido.
Encerro já mistérios por desvendar em momentos de bruma.
Não a vós que passam apresados pelos caminhos,
Mas a quem tenha tempo de contemplar as cousas e as flores.
Que saiba ler no olhar o desejo simples de um beijo entre o rosmaninho bravo do campo.
Ah, não me venham com aquele gelo por quebrar,
Que o unico gelo é a morte!
Tenho meus parcos panos que vos enfrentam.
Não, não me busquem - que eu sei que o não farão – pois não sei estar.
Sou o que falou alto nas cerimonias,
O mesmo sem maneiras que era olhado com o vosso desdém,
Enquanto escarneciam baixinho do vestido amarelo da anfitriã a quem amavelmente sorriam.
Não, não me procurem na vossa aparência e vazios valores.
Eu sou o mesmo sujo e feio com que rasguei o ventre da minha mãe.
Não pretendo os vossos aplausos nem as vossas lágrimas de gotas de pedra.
Pretendo-me inteiro, bêbado de realidade e lúcido de poesia

sexta-feira, novembro 14, 2008

Amigo

Para Oswaldo, um poeta maior

Amigo,
Que simples palavra pode traduzir uma mão cheia de mundo.
Escreves a vida com letras de sangue e sol,
Como quem cava no jardins as rosas da infância.
Tens o toque na simplicidade de uma alma infinda.
Amigo,
Em todas as horas que cobrem de noite os dias
Em todas as quedas de onde te levantas,
Em todas as lágrimas derramadas,
Saberás sempre honrar a razão
Do calor das tuas mãos de poeta.
Aqui te admiro e enalteço
Aqui te guardo e me honro: Amigo

Disfunção

Tenho uma disfuncional ideia de realidade!
Penso-a sem função real, é isso!
A realidade é como é e eu sou como não sou para ser real.
A realidade tem vento, chuva e sol.
Eu existos nas praias de águas calmas da minha infância,
Nas ruas graníticas das serras a norte,
Onde criei as raízes que me alimentam a memória.
A realidade é feita de ausências e silêncios que nos gritam alto.
Eu realmente tenho a saudade e a presença metafísica das cousas e das gentes.
O sussurro de cada declaração por escutar.
A realidade é vã, rápida e fria, desprovida de intenção.
Eu sou de paixão e de loucura parido e do peso leve de um rosto em meu peito,
O cheiro doce desse corpo, a marca da seda dos cabelos que entrelaço nos dedos.
A realidade é tudo e nada ao mesmo tempo.
Eu simplesmente o agora onde existo.
Mas, não me acordem desta insane razão!
Quero perecer no sonho,
Com esperança na impossível possibilidade do futuro.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Efemera eternidade

Foi sob a luz das estrelas,
Ao som doce das ondas,
No calor da noite de Primavera,
Que aqueles corpos se fundiram
Que as bocas beberam mútuos beijos.
Foi, sobre as escarpas duras da costa,
Que o suave sabor daquele sangue quente escorreu
Sobre o corpo esquecido dos amantes.
Hoje em cada peito, a vontade
Em cada olhar a saudade.
Daquele noite que de dois se fizeram um
Para a efémera eternidade.

terça-feira, novembro 11, 2008

Escarnio

Riso de escárnio,
Porque te quis como se quer a própria metafísica.
Ris neste peito que te acolheu,
Te entregou toda a sua humanidade.
Hoje quando chorares esse rio seco dos teus olhos.
É em meu peito de gelo em que moras,
E onde contra vontade te prendo.
Para me prender, para me perder.

segunda-feira, novembro 10, 2008

Ignorancia

Ignoro a tua sabedoria,
Transcende-me a pseudo-inocência onde vives
Aprendi com a tua sabia ignorância,
Em ti cresçi na tua mente de criança.
Escutei tuas palavras que me recordaram,
Tempos de um tempo ido e lembrado e esquecido já,
Agradeço a vida em teu olhar transmitida.
Mas hoje aqui me esvazio da espera nunca alcançada
Desse tempo em que tua voz me mentia,
Dizendo ao vento que me amava.
Hoje gritas-me o silencio em que outrora te refugiavas.
Aprendi contigo o significado da palavra ausencia
O quão queima um pedaço de gelo
O peso bruto da pedra angular do teu peito.

domingo, novembro 09, 2008

Bebedeira

Hoje de poesia me embriaguei!
Assim foi e assim me quedo neste estado ébrio.
A poesia não nos traz a realidade de cores cinza.
Traz-nos a realidade com as cores vivas do desejo
Hoje assim me quedo moribundo e vivo.
Não me tragam conceitos morais de vento feitos.
Tragam-me humanidade e defeitos que se sublimam e perdoam.
Hoje estou infinitamente bêbado de palavras.
Não quero os vossos falsos moralismos que somente a outros se aplicam!
Venham os vagabundos e deserdados,
Venham os fora da lei, os maltrapilhos de olhos doces
Que pedem um pão como quem pede um poema.
Venham os que foram cuspidos, traídos, desamados.
Venham todos os nus que somente se vestem com a sujidade aparente.
Venham os que nada buscam e que escarnecem da vaidade humana.
Aqui vos recebo com um abraço que não possuo
Aqui vos acolho neste corpo igualmente imundo,
Por isso desprezado e sublimado.
Venham e faremos de nossa embriaguez
A força que nos sustenha acima do tumulo onde nos querem!

Ojos de Tierra

Que ojos de tierra tienes que se olvidan del mar!
Que manos de acero que me prenderán a ti por la eternidad de los tiempos,
Cuando todas las brumas de las entrañas de la tierra recordaran tu nombre!
Es mujer niña y plata salida de las olas de la playa
Aquí te veo y aquí te guardo en mi pecho de hielo y viento,
No fuiste más que mi propia memoria en los días de sol,
Mi cancion desesperada y desengañada.
A mi retornaras hecho sangre y lava del Vulcano,
Para en seguida me dejares en la profundidad de los abismos.
Que ojos de tierra tienes esta noche que te no te olvido.
Que ojos de tierra tienes
Mansos como la flor del jardín.

quinta-feira, novembro 06, 2008

Juramento inacabado

Sabes o que deseja este teu meu corpo cansado?
Procurar abrigo nas alvas colinas de teus seios.
Sepultar-me de semente e sangue em teu vazio peito empedrado
E queimar o gelo desses olhos na fonte cristalina do teu ventre.
Foram teus, estes braços que se levantam em desatino.
Teus, foi este peito onde me contavas teu destino.
E agora neste silencio a que nos prendeste
Nesta luz ténue que nos condenaste,
Serei o livro que na estante espera o que já é esperado.