sexta-feira, junho 20, 2008

Namoro (ou o outro lado da inveja)

Ontem vi-vos.
Não sabem quem sou nem que por mim passaram do alto do inverno primavril da vossa vida. Iam somente cometidos ao mundo em vós criado e por vós mantido, puro, rico de mil experiencias, marcado por centos de quedas e outros tantos levantar.
Fiquei indiscretamente a observar-vos e sentir dentro de mim a inveja boa do que por vós senti. Olhei e vi um futuro desejado e perdido, vi em vós a propria essencia do meu querer. O vosso silencio cumplice de olhar meigo da profundeza da vossa juventude de muitos muitos anos, muitos e imensos passos nesse caminho que para mim também desejei.
Voces foram para mim a prova viva e caminhante que tudo é realmente possivel quando o olhar se cruza e as mãos se dão como quem partilha a própria alma, como quem é uno e disso faz gaudio.
Vi-vos vivos, e contudo, fui ignorado pois assim tem de ser. As lições aprendem-se e pouco se discutem, pouco se tem para dizer perante a evidencia da vida. Invejo sim o olhar trocado entre vós que poucos ditos jovens conhecem. Hoje vive-se a correr sem tempo de dar um abraço ou um simples olhar que tudo diz.
Sim, invejei as mãos que se davam e o beijo trocado, desigual a outros tantos que as vossas bocas trocaram na vossa já longa juventude.
Quem me dera ser velho assim e saber partilhar a mão como quem dá a propria vida!

quarta-feira, junho 18, 2008

Traição

Os olhos a trairam!
Traida foi naquele breve e longo instante
em que seus olhos,
sem saber mentir,
Gritaram o que a boca calou.
Deram ao mundo o brilho que os labios
teimaram em em apagar.
Traição breve e doce,
Numa profunda verdade encerrada
E, agora que relembro,
esqueço já se foram os olhos que trairam
ou o gesto mudo que a irracional razão
Aos lábios impos?

quinta-feira, junho 12, 2008

Saudade

Esse intruso que se nos invade o peito,
Que vira nosso mundo ás avessas e nos faz doer até á metafisica de nós mesmos.
Esse elevar da memória onde descremos.
Sinto-te, saudade dentro de mim como uma doença má.
Não me deixa respirar, não me trás a razão.
Outros têm a felicidade de não existires.
Vivem em caminhos transversos e riem sem nunca verter uma lágrima.
Outros vêm e trazem-te como trofeu desmerecido.
Tu que em mim habitas desde os primordios,
peço-te que te cales, que me deixes só com minhas memórias esquecidas
do meu tempo de criança.
Saudade mata pouco a pouco!

Promesa

Vem
Mesmo com teus medos, vem
Com tua humanidade vem.
E eu prometo
recolher-te no meu peito
Curar tuas dores,
Como se de um ninho me trata-se,
E jamais deixar perder-se aquela lágrima que agora escorre.

quarta-feira, junho 04, 2008

Palavriado

Se perguntarem por mim
(que não perguntam...)
Diz que estou perdido entre as palavras.
Que me dedico a estuda-las com toda a metafisica do universo.
Se perguntarem
Diz que me perdi nessa torrente mágica do diálogo.
Não sou mais que um conversador,
Que gosto do adubo da alma de uma conversa.
Parti embalado nesse rio que é a voz que me fala,
O sorriso que acalenta o espirito no frio que assola este Inverno.
Se perguntarem por mim,
Se mostrarem o falso interesse de saber de mim,
Não lhes dês a razão que buscam entre o escombro do caminho.
Diz que me deixei levar por letras e mistérios do olhar.
Nunca fui senão um simples ser entre a multidão.
Por mim nunca ninguem deixou pai e mãe,
(e quando deixou fugi eu),
Sempre amei as palavras cofres puros de sentimentos não diziveis.
Não, não lhes digas onde fui,
Não lher dês noticias dos meus passos perdidos e,
em silencio e cumplicidade,
Abre-me a tua porta para que mais uma vez,
naveguemos no tempo
embalados no doce encando das palavras compartidas...

Palavras.

Gosto da torrente das palavras.
Das que se proferem e das que se calam,
porque não precisam de som para que se entendam.
Gosto como gosto da agua fresca do rio que corre
E nos refresca no calor do Verão.
Gosto do silencio das palavras tocadas
Das palavras entendidas
Das palavras...
Das palavras...
(entrelaças pelos esporadicos gestos)

segunda-feira, junho 02, 2008

Talvez um dia

Talvez,
Um dia,
saiba reter
a magia
de um olhar.
Talvez,
Um dia
Escute
Esse silenciar
Que tanto fala.
Talvez,
Um dia,
Encerre na mão
O calor eterno
das palavras.
Talvez,
um dia,
não seja o tempo
agonia.
Talvez,
Um dia...