sexta-feira, março 14, 2008

Navegação

O mar trouxe até mim sua voz de revolta.
Ondas batem na rocha e trazem até mim seu lamento
como que pedindo novo alento.

Parti nas ondas e em alto mar me fiz marinheiro
Hoje ouço o docemente falso cantar das sereias
e, olhos postos nos horizonte parto buscando
porto seguro onde me abrigue de ventos e tempestades

Que me cantem sereias com seu cabelos á brisa
Com vozes doces de mil encantamentos recheadas
Cantem que escutarei e sorrindo
Manterei meu rumo, meu remar
Que o meu destino é quem me aguarda
para no final da jornada em braços que desconheço repousar.
Fazer nova terra novo mar.

segunda-feira, março 03, 2008

Auto-Biografia (breve)

Era uma vez!
Uma, mil pouco importa quando se é!

Era, pois, uma vez, eu!

Do ventre de minha mãe fui arrancado por entre agua, sangue e humanidade
Gritando ao vento e á vida que ali estava, de sonhos carregado.
Que braços me abraçaram e olhos me olharam somente imagino
nos doces momentos quando de deleito
lembrando também o peito, onde chorava e me saciava.
Os olhos castanhos profundos que tantas vezes foram meu refugio!

Cresci, por vezes em sabedoria, por vezes em graça,
mas sempre em humanidade despreocupada
caminhado os fáceis caminhos que á luz me conduziam

Cresci por entre campos e mar,
na cidade grande e na aldeia pequena
aprendendo segredos da terra escura
A mesma que reflectiam os olhos castanhos.

Cresci amando as cousas e os animais
aprendi da criação a irmandade oferecida
banhei-me em mil rios e ondas e assim me fui fazendo
homem.

Amores tive mais que a humana memória recorda
e pensei que guardava tudo num simples coração
Ah, doce ilusão de quem crescia.

Gerei vida por distracção e amei-a por convicção
Fui bom e mau e tudo ao mesmo tempo
Crendo somente ser esse o meu destino.

Mas o abismo, para onde alegremente caminhava surgiu!
Do alto da vida e do riso caí!
Do alto, meu Deus bem do alto, rompendo-me em mim feridas
de humanidade acumulada.
Gritei bem alto por socorro e vi-me só
Da mesma solidão por mim cultivada em multidão.
A meu lado escorria o sangue podre que me inundava.
Pouco a pouco lambi minhas chagas
Ergui me do fundo onde jazia
e donde as rapinas aves esperavam já o festim final.

Ergui meus braços ao Céu
Os olhos castanhos de minha infância
partido tinham já, outros me iludiam e me chamavam
sorrindo pela humanidade despedaçada.
Pouco a pouco, com mãos ferias e pés quebrados
me fui regendo para lá das trevas da ravina
Pouco a pouco, com as forças que me restavam
subi a pulso minha humanidade
revi as farpas que me tinham flagelado
as mesmas com que no passado flagelei sem saber

Subi, cresci, gritei de uma raiva de medo e cansaço
Subi, cresci passo a passo espiando meus pecados
Curando minhas magoas e cansados
Subi, cresci e cresço
Não mais olhos castanhos por mim reclamam,
Não mais um peito aberto onde descansar
mas com a alma toda em carne vida
Sei que cresço e me reconstruo
Sei que me torno Homem

Ode a uma Fonte Santa II

Chegou o pastor e seu rebanho de sonhos ao pé da Fonte
Pastor de emoçoes sedento de agua viva

Chegou com o rebanho a Santidade buscando nas aguas
A Fonte que outrora de agua resplandecia
Por outro ribeiro jorrava para lá do lago onde bebia

De sede se quedaram mudos e quedos
desejando aquela agua que a boca e a alma pedia.
Que a Fonte recusava agora
banhando estava outros campos, outras vidas.

Seguiu então o pastor outros caminhos
Buscando com seu rebanho outras fontes, outros rios.
Que de sede já se vai finando calmamente
Nesta jornada rumo a novos prados eternamente

Para trás um ultimo olhar na Fonte
Aquela que sua essencia pedia
mas que por designio já não podia
Para sempre saciar de vida seu rebanho

Caminha pois o errante pastor
Humano, só e triste
Acompanha-o somente um sedento rebanho
Que de vida se afogará um dia...