segunda-feira, dezembro 31, 2007

Dádiva

O tempo segue a doce roda da vida,
Os dias sucedem-se com um pulsar novo de um olhar de esperança
Caminhos percorridos lado a lado
noutros espaços noutros tempos agora revelados.

Ah memórias que em tua voz encontrei,
Que em teu corpo experimentei.
Nasceste para mim Rosa fêmea
Tu que em meu sangue florias já.

Olho-te na calma de um fim de tarde,
respiro-te com a brisa do mar e a chuva que nos abençoa.

Agradeço e sorrio
Nada mais posso fazer
Nada mais me é pedido
Tudo me foi oferecido
No doce sorriso do teu olhar de Eva

terça-feira, dezembro 04, 2007

Morte Anunciada

Pereci de sede á beira do óasis,
De fome junto á mesa do banquete,
Cego de escuridão junto á luz.
Não por inanição dos sentidos,
Mas por crueldade dos vivos.
Quis mover-me mas amarraram-me os passos
Quis gritar e fui amordaçado.
Sim, eu que de mim fui vitima, que meus pecados espiei na tormenta dos dias.
Eu que vil fui e vil me arrastava pelo mundo.
Um dia, um dia olhei-me no espelho da realidade e vi-me imperfeito.
a ti estendi a mão para de ti receber escárnio que só o teu medo produziu.
A ti me dei num misto de pureza e humanidade.
De ti recebi o riso trocista nas conversas de café:
"Ai o pobre do Alberto, morreu adormecido na levada da onda...coitado"
e entre um chá e um bolo te ris de quem lutou por ti,
quem ousou sonhar o prémio merecido.
Hoje, pela vida me detenho por cobardia, eu que no mal fui Rei e no bem plebeu me fiz.
Não, não busco falsas mãos que se me estendem,
Recuso a ordem dos dias que me apontam o esquecimento.
Se amar é viver e quem nunca amou morto está,
Que seja essa a minha única forma de respirar,
Que a memória se torne leve e esquecida
mas jamais recusando o sano momento de ter amado sem medida.
Aqui me apresento:
Humano! Amante, condenado e renascido

Declaração

Neste mundo me vejo e reencontro, eu que de muitos passados construí meu presente.
Aqui me encontro no profundo vazio de comigo me reconhecer. Sim, não me conheci e a mim me beijei como se fosse o último dos homens.
Vi-me perfeito e assim me aceitei, doce ilusão!
Vejo cada pedra que construi em mim, cada fuga, cada caminho sem reconhecer meus passos mas sabendo que são indiscutivelmente meus.
Ah que renasço em mil silêncios repetidos,vontade de os romper mas falta-me o eco que me devolva a sensação de gente.
Quando infante era, nada se interponha em meu caminho. Hoje crescido e a crescer tudo parece fazer sentido de vida nova, marcada pelo castigo de vida desperdiçada.
Quantos anos me restam? Não sei! Quantos amores perdidos e recusados? Pouco interessa. Simplesmente esta ideia de que de mim vou matando saudades e descobrindo.
Poesia? Sim, sempre, eternamente a forma de me exorcizar e tornar menos menor.
Amores perdidos outros recusados, sim com a confiança em mim deposta por mim próprio.
Recuso o amor pelo corpo, aceito e busco o querer da alma que, essa sim, une corpos por arrasto.
A ti, meu amor eternamente recordado, que outros braços terão um dia (se não já), declaro ser fiel. Jamais me entregar com a força de um presente, espelho de um passado. Não sou o que outrora fui, sou essas simples raízes que se foram em árvore podando ganhando nova forma, novo alento.
Sozinho estou neste Dezembro de boas e estúpidas intenções de paz e concórdia.
Ah, nós humanos precisamos de imagens como outrora os santos.
Sim aqui me encontro em permanente recusa de vida cheia de vazios, de momentos estéreis de afectos.
Sozinho sim, mas digno.
Sozinho sim, mas fiel!