domingo, outubro 28, 2007

Via Dolorosa

Ontem percorri com pesados passos os caminhos da cidade.
Percorri lembrando o arrastar penosos dos dias vazios da sua ausência.
Percorri as mesmas ruas onde outrora caminhei com a mão cheia da sua,
com o meu olhar que se encontrava no seu e nele renascia.
E as ruas falaram-me daquele tempo.
A cidade voltou a mostrar-me a sua imagem tão presente
A nossa imagem.
O frio de Outono batia-me no rosto secando as lágrimas.
Nada mais restava em mim que a memória revisitada daquela paixão presente.
Em cada passo dado revia-me como se percorresse de novo o seu corpo de seda.
E nada mais soube fazer que gritar em silencio as lágrimas que me molhavam a alma.
As gentes passavam por mim no seu apresado passo de fim de semana,
Ignorando outros dramas, outras penas.
Novamente ali estava o museu visitado,
a mesma mesa do pequeno almoço na esplanada da rua,
A loja das prendas,
o hotel onde nos amamos nessa loucura distante dos amantes,
O jardim onde ao fim do dia a busquei como quem procura a mais bela das flores.
Tudo impecavelmente presente,
Penosamente ausente.
Procuro o seu nome que ainda se confunde com o meu
e o eco simplesmente me trás o ensurdecedor grito do seu indiferente silencio.
Passo a passo,
lágrima a lágrima,
percorro deste modo o meu caminho na cidade e na vida,
rumo a uma esperança de redenção e perdão,
rumo ao cálvario.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Flor

Dentro de mim busco,
Esse lugar onde outrora plantei um jardim.
Procuro essa flor que em meu sangue se desfez.
E como erva daninha se alastra nesse estéril prado da minha alma.
Cresce, mina, e pouco a pouco me consome.

Procuro em vão!
Não mais existe o eu.
Ambos nos fundimos.

Não existo já.
Somente esta dor que de fogo feita, me consome.
Este fogo que no "nós se acendeu,
Que em espasmos vou parindo,
E assim me termino lentamente.